A crise cambial é a principal causa dos aumentos verificado nos últimos dois meses. E pouco pode ser feito no imediato para melhorar este cenário, dizem os especialistas, com o peso a cair nos bolsos dos cidadãos e dos consumidores em geral, com especial incidência nas camadas mais desfavorecidas.
Os preços de alguns dos principais produtos da cesta básica registaram um aumento de até 56% no mercado informal e 39% no formal, de acordo com cálculos do Expansão com base nos produtos considerados fundamentais na dieta dos angolanos. A recolha de informação foi efectuada nos mercados formais e informais da capital do País.
A reportagem compara os dados recolhidos pelo Expansão a 29 de Maio com os preços praticados no dia 24 de Julho, num contexto em que têm sido registadas alterações no quadro macroeconómico, com destaque para a redução das receitas de exportação e a consequente depreciação cambial. Também o impacto gerado pelas expectativas em torno da redução dos subsídios aos combustíveis tem efeitos directos no nível de preços.
Para o economista Heitor Carvalho, a taxa de câmbio é, sem dúvida, a principal causa deste aumento verificado nos últimos dois meses. O que significa que a taxa de câmbio também é um dos principais factores de inflação na economia angolana.
Questionado sobre a imagem que estes dados passam em relação ao nível de vida da população e o que pode ser feito para melhorar este cenário, o director do Centro de Investigação Económica (CINVESTEC) da Universidade Lusíada de Angola, afirmou que “nada pode ser feito de imediato”.
“Todos os preços devem estar ao nível a que os melhores produtores internos conseguem produzi-los, quer exista produção efectiva, quer esse preço seja apenas o preço da produção potencial. De cada vez que colocamos um produto abaixo do preço a que podemos produzi-lo, estamos a potenciar as importações, a aumentar a pressão sobre a taxa de câmbio, uma maior desvalorização da moeda e uma espiral ascendente dos preços”, defende Heitor Carvalho.
Nos mercados formais, a análise teve como base um levantamento de preços de 15 produtos considerados fundamentais na dieta dos angolanos. Os dados foram colectados na praça do Catinton e no mercado do Asa Branca. Já nas lojas formais foram seleccionadas nove categorias de produtos alimentares e foram comparados produtos da mesma marca nos supermercados Kero, Candando e Maxi.
Nos mercados informais, a caixa de massa alimentar Tio Lucas de 24 unidades foi o produto que registou a maior variação. O quilo de fuba de milho e a caixa de óleo da marca Belíssimo vêm em segundo e terceiro lugar com variações de 54% e 51%, respectivamente. No outro extremo, a caixa de ovos (24 unidades) registou a menor variação ao passar de 2.900 para 3.000 Kz (3%). A batata-rena foi o único produto que manteve o preço constatado no último levantamento efectuado pelo Expansão.
Já no mercado formal, o quilo de arroz da marca Patriota foi líder na subida de preços com uma variação de 39%, ao passo que a caixa de coxa de frango USA de 10 Kg subiu 8%, registando a menor variação entre os produtos seleccionados.
Dados da REA não reflectem a realidade
A Reserva Estratégica Alimentar (REA) divulga semanalmente a evolução dos preços dos produtos da cesta básica. Mas os valores divulgados nem sempre condizem com os constatados nos mercados do País.
A título de exemplo, na semana de 19 a 25 de Junho, a REA divulgou o preço da caixa de coxa de frango de 10 Kg com um valor de 10.200 Kz, mas o Expansão constatou, naquela mesma semana, que os preços reais variavam entre os 14.000 e 15.000 Kz nos mercados informais e formais, respectivamente.
Heitor Carvalho justifica a disparidade entre a expectativa do consumidor e os preços apresentados com o facto de a REA ser um órgão “com dependência política e não independente”.
Fonte: Expansão
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