Nos fins-de-semana, cidadãos saem de quase todos os bairros e municípios para o centro da cidade à procura de notas nos ATMs. Sem dinheiro nos multicaixas, clientes bancários viram-se para os balcões, mas há casos de bancários que alegam “falta de sistema” para não distribuir dinheiro.
Há cerca de uma semana que é praticamente impossível levantar dinheiro nos ATM no centro de Luanda sem enfrentar longas filas de pessoas que chegam a vir de Viana e do Cacuaco em corridas com o único propósito de encontrar um multicaixa com notas.
Tem sido assim praticamente todos os dias, desde a última semana de Julho, especialmente depois de o salário da função pública cair nas contas bancárias. Se na periferia de Luanda são poucos os multicaixas que têm dinheiro, especialmente durante os fins-de-semana, também no centro da capital se tem de andar muito para encontrar caixas carregadas. As poucas que vão sendo carregadas enchem-se de dezenas de pessoas e, passado pouco tempo, ficam sem qualquer nota disponível
Até já há quem diga que este processo virou moda um pouco por todo o País, pois no final de cada mês é normal ver ATMs agitados com longas filas, e pessoas a andarem de um lado para outro à procura de notas. Esta última semana, o cenário agravou-se e se já era difícil encontrar notas nas ATM, o mesmo começa a acontecer também nos balcões dos bancos, que já têm dificuldades para ceder liquidez a tanta procura.
“Vou à procura pela sobrevivência”, admite Guilherme Manoya, que se encontrava este domingo junto ao Millenium Atlântico do São Paulo, onde não conseguiu levantar dinheiro.
O jovem contou que vinha do município de Cacuaco, onde não conseguiu encontrar qualquer máquina com dinheiro. “Saí de Cacuaco às 10h00 e apanhei um táxi para a Cuca, depois de perder mais de meia hora na fila do BIC, pois o dinheiro no caixa acabou. Comecei a caminhar a pé com esperança de encontrar um banco com dinheiro e vim parar aqui”, contou.
Já Otília Jandira, que mora em Viana, teve de apanhar três táxis a partir da Vila Chinesa para chegar ao banco Sol no 1.º de Maio, este domingo. Revelou que, desde sexta- -feira à tarde, que não conseguia dinheiro nos bancos do município. “Na sexta-feira de tarde tinha dinheiro no BFA, mas aquilo parecia uma igreja a dar missa lá fora”, contou, irritada com a situação, resumindo a sua indignação com uma frase: “ganhar dinheiro já é difícil e ainda temos depois de nos submeter a grandes humilhações para tê- -lo na mão”. Otília questiona mesmo: “Que País é este onde as pessoas têm de andar longas distâncias, suportar filas intermináveis à procura de alguns míseros kwanzas para sobreviver?”
Durante uma ronda que o Expansão fez no centro da capital do País, no domingo até às 13h00, apenas o BIR na rua Nicolau Gomes Spencer, o banco Sol do 1.º de Maio e o BNI na rua Comandante Che Guevara tinham ATMs com dinheiro. Mas foi “sol de pouca dura”, já que a palavra espalhou-se, provocando uma corrida a estes bancos, que esgotou as notas ali disponíveis.
Este cenário tem sido habitual aos fins-de-semana no final de cada mês, especialmente depois de a função pública receber o seu salário, alargou-se também para a semana. Entre segunda-feira e quarta-feira as longas filas em ATM facilmente esgotaram o dinheiro disponível. Por exemplo, no Fórum Fortaleza, onde se encontram pelo menos seis ATMs, era longas as filas para conseguir levantar dinheiro. “As pessoas não param de vir. Esgotam o dinheiro num instante”, disse um funcionário ao Expansão.
Fonte: Expansão
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